"Cem dias entre céu e mar" é o título de um
dos meus livros favoritos, no qual o velejador Amyr Klink narra sua primeira grande viagem marítima, solitária, a bordo de um barco a remo projetado especificamente para a travessia do Oceano Atlântico, entre a costa africana e a brasileira. É dele a frase para eu me lembrar sempre que está no
início do blog. Essa obra tem vários significados para mim, mas para esta postagem, é a
contagem dos 100 dias do meu novo transplante de medula, da medula do amor.
Parece que ainda
ontem eu estava com todas as interrogações pairando pelo quarto nº 14 do setor
de Transplantes de Células Tronco, monitorada 24 horas por uma câmera de vídeo,
cercada de cuidados por equipes muito dedicadas e competentes, mais os
familiares e amigos que me acompanharam nesse tratamento. Foram 39 dias dentro da "lâmpada", como diria o Amyr. Semelhante à viagem dele, o transplante foi cuidadosamente planejado por profissionais experientes que abraçaram o meu caso com mais do que profissionalismo, mas com vontade de me oferecer a oportunidade da cura, com muitos cuidados, protocolos muito bem estudados e perspectivas de sucesso.
Hoje, ao completar
100 dias do transplante alogênico, posso dizer que minha vida está normal.
Tenho que tomar alguns cuidados, mas são bem tranquilos. Assim como o Amyr retornou a terras brasileiras um pouco antes do que o
previsto, posso dizer que eu também fiz essa travessia do TCTH com êxito e em
menor tempo que o previsto. Faço agora uma breve retrospectiva:
- Tio paterno doador bem mais do que 50% compatível;
- Doação realizada por aférese, sem intercorrências e muito rica em células-tronco;
- Pega da medula no 11º dia;
- Nenhuma transfusão de sangue e plaquetas (as doações recebidas serviram para abastecer o banco de sangue, repor seus estoques e me deixar finalmente com crédito depois das transfusões que recebi depois de certos ciclos de quimioterapia em 2011 e 2012);
- Nenhuma intercorrência;
- Nenhuma reação esperada no período de aplasia (mucosite, diarreia, febre, alergia etc.);
- Nenhum sinal de DECH - Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro (ou GVHD em Inglês) - nem aguda nem crônica;
- Diminuição dos linfonodos palpáveis;
- Diminuição do imunossupressor 20 dias antes da programação inicial, sem nenhuma reação;
- Mudança do HLA, indicando o sucesso do transplante - quimerismo total do doador.
Por esses dados só
tenho motivos para comemorar a nova oportunidade de viver bem, de utilizar os
meus dias da melhor maneira possível, fazendo planos e agindo para realizá-los
a curto, médio e longo prazos. Hoje posso dizer que estou no caminho da
felicidade, com perspectivas boas em relação ao futuro. Estou estudando
novamente, cuidando de mim mesma com mais afinco, tanto física quanto mental e
afetivamente. Tenho minha família, amigos e profissionais que realmente se
importam comigo, pessoas que têm feito grande diferença e que contribuem
constantemente para o meu progresso e qualidade de vida.
Se alguém que tenha linfoma estiver lendo esse texto, peço que não
desista, que insista em se tratar. Por mais difícil que esteja sendo a sua
caminhada, ainda assim é possível vencer, é possível encontrar novos caminhos,
novos tratamentos, novas esperanças. Eu não consegui chegar ao dia de hoje com
um tratamento pequeno, de poucos ciclos de quimioterapia tradicional ou
radioterapia, mas sim depois de passar por vários protocolos, vários
exames, vários médicos, vários hospitais, e nenhum deles foi inválido, nem
mesmo o ICE, que foi o protocolo em que tive progressão da doença. Hoje
continuo em acompanhamento, tomando medicação imunossupressora e outras
preventivas contra infecções oportunistas que podem tumultuar meu processo de
recuperação. Faço exames e consultas regularmente. Eu ainda não sou considerada
como uma paciente em remissão, é cedo para avaliar. Espera-se que as
células-tronco transplantadas estejam em combate contra as células de Reed
Steinberg (as de olhos de coruja), para que o linfoma não volte mais a me
atacar. É o chamado GVL (Graft Versus Leukemia) Efeito Enxerto Contra
o Linfoma - no original seria contra a Leucemia. Conforme a imunossupressão
diminui, o organismo e a medula nova vão se habituando um ao outro ao mesmo
tempo em que o combate contra invasores (linfoma) torna-se mais forte.
Ainda haverá vários
marcos no decorrer deste e do próximo ano, e junto com eles, vou vivendo
bem.
É hora de viver a
vida.
Numa feliz
coincidência, o setor de TCTH do IBCC - Instituto Brasileiro de Controle do
Câncer - onde fiz esse transplante, hoje inaugurou o seu novo andar, numa
ampliação que garantirá o atendimento de mais pacientes onco-hematológicos,
tornando-se um dos hospitais com maiores números de leitos para transplantes de
medula. Parabéns à equipe e ao hospital por essa conquista.
Encerro o D+100 com um parágrafo que gosto muito, um pensamento que carrego sempre comigo, e que está no livro que emprestou o título ao texto de hoje.
Encerro o D+100 com um parágrafo que gosto muito, um pensamento que carrego sempre comigo, e que está no livro que emprestou o título ao texto de hoje.

Fé na vida!
C@rin
C@rin
Torço por vc com todo o meu coração!
ResponderExcluirBom dia, Carin!
ResponderExcluirMuito bom ler que está bem, saber estas notícias.
Estou sempre torcendo por vc, está em minhas orações.
Nem sempre é fácil, mas o que importa é não desistir e ter fé sempre.
Bjs c carinho
Feliz Ano de 2013 e muitos parabéns, pelas suas conquistas de 2012.
ResponderExcluirBeijos.
Vc é muito especial, tenho por vc um carinho muito gde, vc sempre tem alo a acrescentar, não sei o que é mais sinto vc uma pessoa muito próxima e caridosa..gosto de vc de um jeito especial.. Cláudia Marques
ResponderExcluirÉ sempre tão bom ler seu texto! Parabéns mais uma vez. Desejo de coração que tudo esteja correndo bem e que sua garra e determinação e coragem estejam sempre junto a você. Também sua generosidade com todos os participantes do grupo Linfoma. Você nos ajuda todos os dias. Por favor, mande notícias. Abraço. Glória Richmond.
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