De repente... EU

De repente as palavras me faltaram... não sei mais o que escrever aqui, mas sei que preciso escrever, me expressar, extravasar alguns sentimentos e pensamentos. 

Fiz 60 dias de TMO, e me sinto absolutamente igual antes, ou seja, continuo sendo EU, e isso é maravilhoso! 

Entre os pacientes transplantados costuma-se dizer que renascemos no dia da infusão da medula, mas eu não gosto disso. Renascemos a cada dia, a cada desafio que vencemos em nossas vidas, a cada sorriso que vivemos, a cada lugar novo que conhecemos, ou seja, renascemos vivendo.

Digo isso porquê eu não estava morta, pelo contrário, sempre estive viva, do contrário não me submeteria a qualquer tratamento, e busquei e buscarei enquanto viver, sempre o melhor tratamento para mim. Embora haja muitos defeitos em mim, eu gosto de como sou, e só vou fazer alguns ajustes, para viver melhor a minha vida comigo e com meus entes queridos na sociedade atual. Não cabe enumerar nada disso publicamente, pois são decisões pessoais. Aliás, se é "algo" particular, por que estou escrevendo aqui? 

Ah sim! Escrevi pra dizer que ainda sou gente, e não um anjo ou uma heroína dos quadrinhos, capaz de eliminar os defeitos e aprimorar as qualidades com uma simples transfusão de sangue. As transformações em nossos hábitos são lentas, refletidas, do contrário não são efetivas e duradouras. Precisamos de equilíbrio, e isso se aprende, não nos é dado pronto.

Tenho me dedicado a arrumar "bagunças" que angariei durante 30 anos, meus guardados estavam muito misturados: musicalização, educação infantil, canto coral, flauta doce, percussão, jogos, poesia, contas pagas, programas de concerto, esboços de aulas e pesquisas, enfim, muita desordem e nenhuma funcionalidade. Esse é um problema fácil de enredar quem mora na mesma casa desde a infância... Juntando o espaço nos armários à acomodação proveniente das circunstâncias, foi criado o monstro que me consome vários dias (e que está mais fracote a cada anoitecer).

Sei que esse texto está estranho, talvez seja mais uma pequena colcha de retalhos para a minha coleção, mas é como penso no momento. Nessas "arrumações" tenho me deparado comigo, com diversas fases da minha vida, e isso me faz pensar ainda mais... Achei uma pretensa poesia sobre um momento meu, de 2006, sempre gostei de me expressar por escrito, mas nunca tive diários ou agendas, escrevia quando dava vontade, nos mais diversos cadernos ou folhas avulsas (por isso que tenho encontrado alguns), e agora o blog me ajuda muito. 

Não gosto de datas comemorativas, cheias de obrigações, felicitações, abraços e sorrisos falsos. Semana passada foi a vez do Dia Internacional da Mulher. Recebi mensagens bonitas, mas confesso que prefiro aquelas que recebo no dia-a-dia, quando alguém simplesmente se lembra de mim, sem atender a qualquer data comercial. Outro dia ganhei um soneto de um amigo, foi inesperado, um dos melhores presentes que ganhei esse ano. Muitas vezes sou sim superficial, a maior parte do tempo, tenho conversas fáticas com pessoas "desimportantes", mas isso me distrai, me ajuda a passar o tempo e sentir-me aceita e normal. Mas muitas outras vezes sou ácida, chata, intolerante.


Outro dia escrevi sobre essas "mudanças" numa comunidade, meu subtítulo foi "Quando crescer, quero ser igual a vocês":

"Não que o tempo de licença médica seja desperdiçado, que eu o utilize de forma medíocre, mas apesar de ter a oportunidade de estudar, de assistir filmes, ler, é como se eu ainda estivesse um tanto fora da realidade... E sinceramente, não mudei nada. Sinto-me igual. Só estou consciente de que a vida é muito frágil, e que certezas não existem, tudo pode se modificar de uma hora para outra, sem qualquer aviso ou planejamento."

Em resumo: continuo EU!