Para eu me lembrar:

"Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada, querer."

Amyr Klink

Linfoma de Hodgkin

"Linfoma é um câncer do sangue, potencialmente curável, que ocorre nos linfócitos, células do sistema linfático, que fazem parte da defesa natural do corpo contra infecções."

Pensamentos

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Câncer cor-de-rosa?


Um dia desses a Garota Impermeável fez um texto falando do tratamento e sua influência no cotidiano em suas diversas fases, pois há dois tipos de comportamentos esperados e aceitos de quem está com câncer: desespero ou fortaleza, sem que o meio termo seja considerado e incentivado.

Ter câncer é difícil, complicado, gera muita insegurança, pois os tratamentos em geral são fortes e produzem diversos efeitos colaterais, ou seja, vários riscos. Mas a vida é como uma caixinha de surpresas, corremos riscos continuamente, sem nos darmos conta disso. Então, quem enfrenta os tratamentos tentando ser razoável, coerente e colaborador consigo é tido como forte, aquele que tira tudo de letra, sem esmorecer ou se descabelar, é visto como um herói, autossuficiente, capaz de passar por tudo sozinho. Diante disso, muitas pessoas pensam: "está doente, mas nem parece, está melhor que eu (que sou saudável)". Porém, a realidade pode e é na esmagadora maioria das vezes, bem diferente. Por trás das aparências, das convicções e da postura otimista e bem resolvida, há um ser humano, cheio de medos e carências, de dúvidas e da necessidade da auto-afirmação, da necessidade de acreditar em seu próprio discurso, provavelmente por isso fale sempre e tanto de forma positiva.

Por outro lado, há aquelas pessoas que se mostram frágeis, desesperadas, que têm as mesmas chances e necessidades que os "fortes", mas fazem alarde de sua condição para ser "paparicado" ou "acolhido" por todos, coloca-se na posição de vítima. O problema é que as vítimas cansam as pessoas, por determinado período são o centro das atenções, mas com o passar do tempo, essa monotonia torna-se despercebida, e como a vida está em constante movimento (até mesmo as vidas repetitivas), as atenções se voltam para outras questões e, a "vítima" fica esquecida.

Certa vez foi mencionado numa comunidade virtual que os tratamentos oncológicos não são "cor-de-rosa", e acho que ninguém pensa o contrário, afinal, são tratamentos fortes, capazes de garantir a vida ou a morte dos pacientes conforme sua eficácia e toxicidade.

Também não gosto quando as pessoas dizem que renasceram, que a vida ganhou outro sentido. As nossas vidas são únicas, o que muda (em parte) é o modo como as conduzimos, as perspectivas que temos e a consciência de nossa fragilidade e papel social no mundo. Quando falo papel social, não significa apenas agir corretamente segundo as leis da nossa sociedade, respeitando-as e vivendo em paz, mas sim nosso papel na melhoria social, nossa contribuição para o aumento da qualidade de vida em todos os seus âmbitos.

Tive um expositor na casa espírita, que interviu na colocação de uma colega que disse que tínhamos de ver o mundo com óculos cor-de-rosa, a fim de fazer o bem. Ele disse que devemos ver o mundo com óculos transparentes, limpos, a fim de fazer o bem com a exata dimensão da realidade, sem julgar de forma equivocada tanto para o bem quanto para o mal, pois a verdade é o único caminho que nos leva ao êxito. Eu concordo com ele. Por isso, quando vejo pessoas que escondem de seus familiares que estão doentes ou que escondem do próprio paciente o nome de sua doença e a gravidade do seu caso, acho isso um desrespeito. Assim como queremos que nossos médicos sejam honestos conosco, para nos prepararmos para os tratamentos e suas conseqüências, nossos entes queridos também merecem ter consciência da situação real. É claro que muitas vezes a pessoa em questão não entenderá os termos técnicos, mas existem muitas maneiras de explicar, cabe a quem está junto fazê-lo com tato e passando segurança.

Nesses tempos de radioterapia tenho tido contato com muitos outros pacientes e seus acompanhantes, nenhum com linfoma ou outra doença onco-hematológica, a maioria pessoas de meia idade e idosos. Felizmente não há qualquer diferença no atendimento dispensado aos pacientes que fazem o tratamento pelo SUS e pelos planos de saúde, mas a falta de informações é grande. Muitos pacientes não sabem sequer que têm direito à gratuidade no transporte público coletivo e dispensa do rodízio de carros para si e seu acompanhante. Muitos têm dificuldades nas perícias médicas, pois no dia marcado levam apenas o atestado médico, e não os últimos exames, anátomo patológico e imuno-histoquímico, é uma verdadeira babel da desinformação. Aí voltam ao hospital e reclamam que não conseguiram os benefícios, mas não anotam as informações recebidas.

Semana passada, no programa da Ana Maria Braga falaram dos direitos dos pacientes oncológicos, e dois dos hospitais mais experimentados em câncer foram visitados, e divulgaram suas cartilhas ou manuais de direitos dos pacientes, mas já estive nos dois hospitais para exames ou tratamento, e não recebi tal material, tenho conhecimento porque sou "rata de internet" e busquei inúmeras informações assim que a possibilidade de linfoma me foi levantada.

Nessa busca desenfreada por informações, me aprofundei em tudo o que envolve o linfoma de Hodgkin, consegui absorver muita informação técnica obtida em sites confiáveis, como os da Abrale, Oncoguia, faculdades de medicina e hospitais especializados em câncer. Mas também fui em busca de emoções, de relatos pessoais, e isso encontrei em blogs e comunidades virtuais, por isso resolvi escrever também o meu blog, para trocar informações e sensações com outras pessoas, tentando deixar uma mensagem de otimismo, de esperança, pois mesmo sendo difícil, é possível sair bem dessa luta, é possível viver bem, é possível ser feliz.

Enfim, câncer não é rosa, nem verde, azul, vermelho... é simplesmente doença. E doença, a gente trata até curar ou pelo menos controlar. Quanto mais transparentes forem as informações a respeito da doença, maior a nossa consciência das necessidades e cuidados requeridos, o que culmina na melhor qualidade de vida durante e depois dos tratamentos.

A vida conversa constantemente conosco, mas raramente a escutamos. Então ela utiliza mecanismos fortes, que não passam despercebidos e nos dá ultimatos. Chamo essas situações de testes, e reclamo muito deles, pois me julgo uma pessoa comum, cumpridora de seus deveres sociais e morais, mas parece que os testes nunca terminam, vêm um após o outro, sem dar nem tempo de eu me reerguer adequadamente. Entretanto, não tenho do que reclamar, a vida me testa, mas vive sorrindo para mim, me dando novas oportunidades de viver bem e melhor.

A vida é bela!

4 comentários:

  1. CArin,
    Adorei teu texto.
    Realmente... as lentes precisam ser transparentes e limpas constantemente para que tenhamos uma visão clara da realidade. Sem sermos negativos ou polianas.
    Gostaria de ter escrito esse texto.
    bjs

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  2. Carin...
    quem escreveu acima fui eu...Marilisa, do Penso, logo insisto...kkk...fiquei "anônima"

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  3. Carin, belíssimo texto!
    Quanto aos testes, às vezes eles vêm como avalanches, sei disso. Mas me parece que vc está conseguindo passar por todos eles.

    Bjs e fica com Deus

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  4. Resumiu tudo..............
    e muito bem resumidooooooo!

    rs

    pratico, simples, objetivo e emocionante1!!

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Olá, amigo!

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Abraços

C@rin